"É a isto que se chama o acto breve, isto é, uma copulação rápida que tem o mau effeito de não ser o goso partilhado, como a natureza tem estabelecido", Dr. Jules Proust em "O Acto Breve", 1910 (edição portuguesa)

29 de junho de 2009

Mestre Grou, o Misterioso.


Nos aposentos de D. Raimonda o ambiente era de cortar à faca. Mestre Grou, o Misterioso, havia chegado de mais uma de suas incontáveis viagens e não estava de bom humor. Conseleiro de D. Raimonda para os assuntos astrológicos e venéreos, Mestre Grou constatara que a Condessa, mercê das vozes que tanto a acometiam, gastara para lá do orçamento em pertinências que, segundo Mestre Grou, não valiam o cocó de um rouxinol perneta. Visivelmente incomodado, Mestre Grou, o Misterioso, olava fixamente o cofre vazio, ao que este, para espanto de A mais B, começara a levitar, pois o Mestre era um profundo conhecedor das Ciências Ocultas. De um lado para o outro, primeiro, e à volta do cofre levitado, depois, Mestre Grou suspirava angustiado, abanando a cabeça e murmurando: 'quem me dera ainda em Veneza...'. Após prolongada reflexão, decide o Mestre ir ao encontro do ilustríssimo Mestre Piolo de Botiphar, seu fiel amigo e companheiro na nobre e viril caça à raposa. Duas palmas bateu Mestre Grou e logo doze aias se ajoelharam humildemente à sua frente. 'Chamai Mestre Piolo. Dizei-lhe que o espero no Salão dos Valetes de Espadas. E preparem um chá de finas e aromáticas ervas alucinogénias com bolo de chocolate em fartura. Quanto a esta desgraça que aqui vejo...administrai dois clisteres de cânfora moída em D. Raimonda até que as vozes passem e cuidai para que não ande por aí desnuda! Que enfado!' Quando as aias ergueram de novo a cabeça já Mestre Grou havia desaparecido misteriosamente, esfumando-se nos corredores do Palácio. Duas penas pairavam no ar e o cofre continuava a levitar. Ao longe um lúgubre lamento ecoava: grrrrouuuu...grrrrouuuu....ouuuu...uuuuu. As aias arrepiadas murmuravam: 'quem nos dera ainda no Hospício Municipal'. D. Raimonda ria. D. Ursinho atava o cordel da fralda ao candelabro.

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