"É a isto que se chama o acto breve, isto é, uma copulação rápida que tem o mau effeito de não ser o goso partilhado, como a natureza tem estabelecido", Dr. Jules Proust em "O Acto Breve", 1910 (edição portuguesa)
30 de junho de 2009
Em busca...
Ligações perigosas (extraídas de páginas ocultadas por Choderlos de Laclos)
(Os origami que D. Raimonda estará condenada a fazer até ao fim dos tempos, enquanto D. Ramiro mofa e amofina na nave dos loucos.)
... por vezes D. Ramiro e D. Raimonda se encontravam no jardim das glicínias, ou sob um caramanchão ocupado por pombos infectos com h5n1. Falavam sobre o devir e como o presente se esgaçava entre compras pertinentes em lojas orientais e de papéis vários. D. Raimonda, salvo os excessos que cometia em longos passeios rodopiantes pelo carrossel (montada num ginete com meio metro de altura), se deleitava com os arrufos de D. Ramiro que fazia projectos a médio e longo prazo. Segundo ele, deveria dar entrada no Conde Ferreira acompanhado por seu fiel Mestre Piolo, com três caixas de arquivo por fazer, um cravo devidamente equipado com alguém que o soubesse manobrar, cinco criados de libré e o incenso necessário para queimar durante as longas noites naquele hospício. A demência era inevitável. D. Raimonda, desesperada, brandia os braços, empunhando o frasquinho de lítio e gritando: "Nóis si salvará, nóis si salvará". Em vão. A cena pungente, digna de um naufrágio e meio, dois Camões e Edgar Allan Poe bebâdo, faria chorar o mais cruel dos juízes. Mas D. Ramiro, virando dramaticamente a sua face na direcção oposta à da histérica Raimonda revia, qual filme de Manoel de Oliveira, toda a vida de ambos. Não havia momento que não fosse literalmente uma insanidade. D. Raimonda cai e o pano também. Haverá salvação?
Da melancolia de Mestre Piolo de Botiphar
É chegada a hora e o minuto de revelar toda a verdade (ou quase toda) sobre o melancolioso estado de espírito de Mestre Piolo de Botiphar. Semanas se passaram sobre o convite de Mestre Grou, o Misterioso, para um chá no Salão dos Valetes de Espadas. O chá sobre a mesa fumegou e esfriou. O bolo secou. Mestre Grou, o Misterioso, às voltas no Salão andou. Nem sombra de Mestre Piolo; nem sinais de sua impecável liteira. Mestre Grou procurou na Biblioteca Máxima, onde Mestre Piolo regularmente se acoitava inventariando inventário de inventário. Procurou nos Jardins de Júpiter e Vénus, nos de Saturno e nos de Saturnim. Nada. Mestre Grou no dourado cadeirão se sentou, exausto e pensativo e murmurou: 'quem me dera ainda em Veneza...' Foi então que Mestre Grou decidiu fazer uso de suas artes e na cobertura do bolo de chocolate um profundíssimo sulco abriu. Em mil pedaços o bolo no soalho se espalhou e Mestre Grou solenemente se ajoelhou. Após uma longa récita mágica em aramaico, uma transparente película ectoplásmica se formou e nela o rosto de Mestre Piolo palidamente se desenhou. Mestre Piolo suspirava, sentado num penhasco, catando pétala de margarida e cantarolando baixinho, alheio ao mundo terreno e à baratinha que, com uma peruca aos caracóis a lira docemente tocava, equilibrando-se num galho do arbusto onde Mestre Piolo se havia acomodado. 'Élise...ahhh...Élise', murmurava. Como chegar a ti, nobre dama? Se meu coração arde do mais puro amor que a razão ofusca...apenas as violentas ondas do oceano entendem o pulsar de minha alma...ahhhhh, Élise! Cândida e púdica Élise..O pudor é para a donzela o que é para o sacerdote a fé...Como sois virtuosa...'
Esfumando-se no ar, a visão deixara Mestre Grou, o Misterioso, de olos arregalados e de sangue raiados. Quem seria a dama de seu nome Élise? Iria descobrir.
De quizorum.
De Fuinorum completed the quiz 'Susan Boyle's effect' with the result:
clink - a sharp metallic sound.
Apontamento da última viagem de Mestre Grou
De Mestre Grou, escrevera já Stefan Zweig (ou se não o fez conscientemente, fê-lo sob comando de seu inconsciente, por certo):
29 de junho de 2009
Para D. Ramiro...
Mestre Grou, o Misterioso.
Nos aposentos de D. Raimonda o ambiente era de cortar à faca. Mestre Grou, o Misterioso, havia chegado de mais uma de suas incontáveis viagens e não estava de bom humor. Conseleiro de D. Raimonda para os assuntos astrológicos e venéreos, Mestre Grou constatara que a Condessa, mercê das vozes que tanto a acometiam, gastara para lá do orçamento em pertinências que, segundo Mestre Grou, não valiam o cocó de um rouxinol perneta. Visivelmente incomodado, Mestre Grou, o Misterioso, olava fixamente o cofre vazio, ao que este, para espanto de A mais B, começara a levitar, pois o Mestre era um profundo conhecedor das Ciências Ocultas. De um lado para o outro, primeiro, e à volta do cofre levitado, depois, Mestre Grou suspirava angustiado, abanando a cabeça e murmurando: 'quem me dera ainda em Veneza...'. Após prolongada reflexão, decide o Mestre ir ao encontro do ilustríssimo Mestre Piolo de Botiphar, seu fiel amigo e companheiro na nobre e viril caça à raposa. Duas palmas bateu Mestre Grou e logo doze aias se ajoelharam humildemente à sua frente. 'Chamai Mestre Piolo. Dizei-lhe que o espero no Salão dos Valetes de Espadas. E preparem um chá de finas e aromáticas ervas alucinogénias com bolo de chocolate em fartura. Quanto a esta desgraça que aqui vejo...administrai dois clisteres de cânfora moída em D. Raimonda até que as vozes passem e cuidai para que não ande por aí desnuda! Que enfado!' Quando as aias ergueram de novo a cabeça já Mestre Grou havia desaparecido misteriosamente, esfumando-se nos corredores do Palácio. Duas penas pairavam no ar e o cofre continuava a levitar. Ao longe um lúgubre lamento ecoava: grrrrouuuu...grrrrouuuu....ouuuu...uuuuu. As aias arrepiadas murmuravam: 'quem nos dera ainda no Hospício Municipal'. D. Raimonda ria. D. Ursinho atava o cordel da fralda ao candelabro.
Espaço Piolicitário
28 de junho de 2009
Cousas de antanho.
No seguimento da nossa linha editorial (que no fundo se inspira no gosto ecléctico dos De Fuinhas, como descendentes de boas famílias endogâmicas portuguesas) apresentamos o que de melhor se fez e faz na cultura nacional.
Parábola do Anão
De pau em riste
Moral da história:
Ao pedir, especifique tamanho
Grossura quantia.
http://www.hildahilst.com.br/
27 de junho de 2009
O gato e a puta (ou o gato da puta)
Numa das nossas deambulações por uma cidade cujo nome não pode ser pronunciado sob pena de internamento compulsivo, coligimos os dados fotográficos acima e os verbetes enciclopédicos abaixo. O que tudo junto comporá um quadro belo, digno de um relance de Rubens ou de Botero, ou de Rubens sobre Botero.
Puta: (de um obscuro dicionário inglês de 1935) woman who hires herself for sexual intercourse
Gato: (do mesmo dicionário ignoto) a tame or wild animal of the genus 'felis'; a spiteful woman.
Porque pareceria cru a posta sem uma poesia, não podemos deixar de transcrever Drummond de Andrade que, na sua fase bêbada e putéfia, andava catando putas por aí (coisas que nós, Ramiro e Raimonda não faz, nem precisa pois elas acabam aparecendo mais tarde ou mais cedo).
A puta (de Carlos Drummond de Andrade).
Quero conhecer a puta.
A puta da cidade. A única.
A fornecedora.
Na rua de Baixo
Onde é proibido passar.
Onde o ar é vidro ardendo
E labaredas torram a língua
De quem disser: Eu quero
A puta
Quero a puta quero a puta.
Ela arreganha dentes largos
De longe. Na mata do cabelo
Se abre toda, chupante
Boca de mina amanteigada
Quente. A puta quente.
É preciso crescer esta noite inteira sem parar
De crescer e querer
A puta que não sabe
O gosto do desejo do menino
O gosto menino
Que nem o menino
Sabe, e quer saber, querendo a puta.
(às vezes este blogue faz sentido)
24 de junho de 2009
Chancelariae Ramirae
Ich transcriptium, ab Excelenciam licenciae:
Hallo!
Wie getz?
Ab Ibizae sumus, in Ricquis Martinis mansionis per magnificat concertitas audire et petiscorum petiscarimus. Et Ramirus et Raimondae, quandum exodorum Palatium Neuroticus et periplus ab mundum faciunt? Vitae curtae est! Carpe diem et diem carpe ab Ryanairibus facilis est.
Chusse,
Leopoldibus et Balbinae.
Ich exonerunt meo,
Master Piolius de Botipharius
Era uma vezzz...
Se avizinha...
23 de junho de 2009
Eris zie Earth Flat?
D. Ramiro Fuinha: Crónicas de um Retiro.
SEXTA NO PALÁCIO...
A populaça rodopiava, servindo iguarias aos convidados. Dez metros tinha a mesa e não cabia uma azeitona. De súbito, o mordomo anuncia a trupe da noite.Três ursos amordaçados entram na sala, de bicicleta. Uma banda de anões surpreende os presentes, com melodias disléxicas e afásicas. Forma-se um corredor. Em cima de uma bola gigante, uma pequena criatura, enfiada num fato almofadado e com um gorro de bobo, toca 'Tudo o que eu te dou' em bandolim, enquanto luta para se equilibrar na bola. De repente - horrível decepção -, a criatura escangalha-se no chão. Silêncio na sala. O ar crispa-se. Um cheiro a incenso de capela cobre como um manto os convidados. Uma sombra toma forma sobre a criatura apanicada em esgares, denotando proximidade. Toca um sinete. Um alçapão se abre, engolindo o bobo tuber-guloso. O jantar prossegue.
SÁVADO À NOITE...
DOMINGO...
Os cascos dos cavalos furibundos ecoam na cidade como as cornetas do Pocalipse. Uma carruagem negra, com o condutor envergando uma máscara em bico, seguida de alguns servos com plumas, pára de súbito no meio da praça. Os diligentes servos sacam do tambor que acartavam às costas, entoando ululos e olando a porta da carruagem, como que a dar uma subliminar indicação. Todo o mundo ola a porta da carruagem. O manípulo roda devagar, emitindo um ranger semelante ao de unhas percorrendo quadro de escolinha. Todo o mundo se arrepia e contorce de desconforto. Um aroma a incenso de capela possui sexualmente os presentes: D. Ramiro Fuinha havia chegado de seu retiro.
D.RAMIRO: A PROFECIA...
Tremo, pensando em sua carruagem negra, voando por entre a foresta comum cortejo de servos acendendo e apagando, acendendo e apagando fósforo, para iluminar seu caminho. Nos céus, corvos piando e circulos e pentagramas desenhando. De repente, a portagem. Uma janelinha protegida por uma singela cortininha de veludo se abre ligeiramente. Uma mão oculta sob uma luva preta de cetim atira uma bolsa de moedas que cai no chão, perante o olar perplexo do funcionário. Um cheiro a incenso de capela penetra na cabine do plebeu, possuindo-o sexualmente. Um carro apita.
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(*) Médium do latim medium - Pessoa acessível à influência dos Espíritos, e mais ou menos dotada da faculdade de receber e transmitir suas comunicações. Para os Espíritos, o médium é um intermediário, um instrumento segundo a natureza ou o grau da faculdade mediúnica. Esta faculdade depende de uma disposição orgânica especial, suscetível de desenvolvimento. Há uma diversidade de médiuns: falantespsicofonia, escreventespsicografia, videntes, audientes, curadores, etc..in 'alhures na net'.
A erecção fugitiva.
Chamamos a atenção para esta pérola. Dentro do carro uivos insanos. São romenos fugidos ao controle aduaneiro que observam a erecção fugitiva de dois babuínos alheios. Para primeiro post, não está mal, apenas um contra: não relata, como desejamos, a vida selvagem portuguesa. Mais virão. E com eles a psico-demência de um casal maravilha que agora enceta uma extraordinária viagem pelo mundo cibernético.